Em um bate-papo com o jornalista Elias Lubaque abordou sobre a questão do Rio Grande Sul e o quanto o Estado andou na contramão nas suas ações que resultou no desastre, desde retirada de dispositivos ambientais importante, e que em 2023 aprovou uma lei que autorizou construir reservatórios em áreas de proteção ambiental; além de perdas de 3,5 milhões de hectares em mata nativas.
Diadema News - Explique o que é o aquecimento global?
André Luiz Neves – Refere-se a mudanças nos padrões do clima, mudanças essas, naturais, mas desde o século XVIII a ação humana vem influenciando, acelerando, e baixando a capacidade do planeta resistir (baixa resiliência). As atitudes humanas que mais aceleram essas mudanças são as queimas de combustíveis fósseis (Carvão, Petróleo e gás), essa queima gera gazes que retém o calor do planeta, chamado de efeito estufa.
Diadema News - O que são gases de efeito estufa?
André Luiz - São gases resultante principalmente de queimas e combustão, mas também natural do planeta pelo efeito estufa, que geram camada infravermelha que retém o calor dentro da superfície da terra, sejam mantendo o sol que entrou e mantendo ou repelindo a saída de energia e calor, porém desde a revolução industrial, a concentração de gases como CO2 (Dióxido de Carbono), metano, enxofre entre outros vem alterando padrões que antes eram naturais.
Diadema News - As mudanças climáticas se adiantaram, os cientistas já sabiam disso?
André Luiz - A ciência também erra, infelizmente esse erro subestimou os anos de: 2022, 2023 e 2024 e tivemos os maiores recordes, com números assustadores. Previsões de aquecimento um grau acima, geraria impactos grandes, o problema é que chegamos em 2023 a 1,5 graus acima da temperatura global, o mundo está mais quente, está se aquecendo mais rápido, a concentração de gazes está muito alta e nossa resposta a estes eventos climáticos extremos não existem.
Diadema News - E o que aconteceu no Rio Grande do Sul estava previsto?
André Luiz - Desde 2015 já apontava eventos mais intensos nessa região e na época já citavam necessidade de alertas de emergências, reformar os Dick e aumentar drenagem e o reflorestamento. Mas precisamos entender aquela região. Teve combinações de fatores: uma onda de calor da região centro Oeste e Sudeste impediu que a frente fria do Sul se dilui-se. Um corredor de umidade vindo da Amazônia potencializou a bacia aérea. Forte chuvas na cabeceira, aumentando o nível do Guaíba em 5,33 metros. O efeito El Ninõ, que é a temperatura dos mares, aumentou muito mais a umidade. Somado tudo isso com o aquecimento global, resultou em mais de 600mm em menos de dez dias.
Diadema News - Podemos falar em irresponsabilidade do governo do Rio Grande do Sul?
André Luiz - O Governo de Rio Grande do Sul, seguiu na contramão. Em 2020 teve uma revisão do Código Florestal onde retirou dispositivos ambientais importante, e em 2023 aprovou uma lei que autorizou construir reservatórios em áreas de proteção ambiental e Áreas de Proteção Permanentes, além de perdas de 3,5 milhões de hectares em mata nativas, um terço disso estava na Bacia do Guaíba, parte dessa perda de vegetação nativa está relacionada a pastos, plantio de soja e grão, em 2022 o desmatamento representou 7.200 campos de futebol.
Diadema News - É possível saber onde poderão ocorrer esses eventos novamente?
André Luiz - Temos muitas publicações, diagnósticos, estudos, até documentos bases de COP´s - Conferências das Partes, mas vou destacar aqui um estudo do CEMADEM – Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais. O que aconteceu foi alertado, e é possível indicar o que pode acontecer, com bom grau de precisão, estudos apresentam previsões até 2050 no mundo e no Brasil já foram mapeados mais de 1.000 municípios que estão em alerta altíssima de risco, infelizmente a nossa “massa política” insisti em não priorizar e agir. Importante lembrar Lubaque, que nos últimos 2 anos, somente no Brasil tivemos emergências de climas tão graves como as do Rio Grande do Sul.
Diadema News - O que podemos fazer para enfrentar esses eventos climáticos?
André Luiz - É um fato que esses eventos serão mais presentes e mais intensos, por isso teremos que estar preparados. Hoje o maior desafio da humanidade atual, é redução das emissões de gases de efeito estufa, se não agirmos agora, poderemos chegar a 2,5 graus da temperatura global em 2050. A COP 27 no Egito 2022 previu meta de reduzir até 50% das emissões até 2030. Agora na COP 30 Brasil em Belém precisa tomar uma liderança. Decretar emergência climática permanente e os Planos Locais de Emergências Climáticas, Mapeamento de RISCO e Plano de contingências.
Diadema News – O que recomenda para mudar esse cenário?
André Luiz - Acelerar transição energética, para energias renováveis, hoje já tem Tecnologia para asfaltos resistentes e que pode absorver até 50% das águas das chuvas. Precisamos aumentar exponencialmente a restauração de vegetação urbana, árvores nas calçadas, áreas verdes gramadas, quebrar concretos. Não podemos aceitar mais coleta seletiva e reciclagem nos níveis de 3%, só temos uma tarefa: reduzir o desperdício e consumo, tirar as pessoas das áreas de riscos, soluções baseadas na natureza, realizar inventários e vendas de carbonos e apostar na economia verde. E também mudar nossa Agropecuária que até 2022 era a maior emissão de carbono com 60% das emissões, trazer modelos melhores e o Brasil tem tecnologia para isso.
Diadema News – O problema é que toda essa força tarefa depende dos políticos.
André Luiz – Verdade, Lubaque. impossível se não escolhermos melhores os políticos. E os canais de comunicação igual o seu está de parabéns em abrir matérias e conteúdo que possam contribuir com uma visão mais integrada.
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