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O silencioso preconceito do Etarismo no mercado de trabalho

Algumas prefeituras dos municípios do Grande ABC têm desenvolvido alguns trabalhos para mudar esse quadro nas cidades

12/09/2024 10h49
Por: Portal ABC News Fonte: Elias Lubaque / Wallace Quaresma
Em 2022, o total de pessoas com 65 anos ou mais no país chegou a 10,9% da população, com alta de 57,4% frente a 2010.
Em 2022, o total de pessoas com 65 anos ou mais no país chegou a 10,9% da população, com alta de 57,4% frente a 2010.

Experiência comprovada na função, anos de trabalho numa mesma empresa, cursos de especialização e currículo impecável. Ainda assim, em muitos casos, não é o suficiente para o profissional que atingiu uma idade avançada conseguir um emprego ou retornar ao mercado de trabalho. E a desilusão aumenta quando o candidato se inscreve para aquela oportunidade de trabalho e a resposta não vem.

Hoje, muitos profissionais sofrem com uma descriminação silenciosa chamada Etarismo. Esse tipo de preconceito é quando as pessoas são afetadas por conta de sua idade. Embora os jovens também sofram com essa discriminação, ela é muito mais comum contra os idosos, que são encarados como pessoas com menor capacidade física e mental, com dificuldades cognitivas e resistentes às mudanças, principalmente as relacionadas às tecnologias de informação e comunicação, que avançam a cada dia. 

Isso fica evidente no mercado de trabalho. Principalmente após a entrevista quando recebe as típicas respostas como “Você não se encaixa no perfil que a empresa está procurando” ou “Nesse momento, preferimos seguir com outro perfil, mas seguiremos com o seu currículo no banco de dados para uma próxima oportunidade”, promessas essas que nunca se concretizam. Atualmente, muitas empresas adotaram uma resistência na contratação de profissionais dessa faixa etária por entenderem que alguns “vícios” adquiridos ao longo dos anos de trabalho podem atrapalhar no processo de adaptação e influenciar os outros empregados.

Por esta razão, o Etarismo gera estereótipos negativos relacionados à pessoa idosa, causando danos. No entanto, o Estatuto do Idoso diz que pessoas com mais de 60 anos tem o direito de exercer suas atividades profissionais, sendo proibida a discriminação e a fixação de limite de idade para cargos, o que acaba acontecendo de forma velada. De acordo com o Estatuto, está previsto que o Poder Público crie e implante programas de políticas públicas que estimulem a profissionalização ou capacitação ao idoso.

Cidades do ABC que tem políticas públicas

Nesse sentido, as prefeituras dos municípios do Grande ABC têm desenvolvido alguns trabalhos. A Prefeitura de Diadema lançou em 2024 uma parceria com a Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Trabalho e de Educação para incentivar os alunos do EJA a se cadastrarem na plataforma do Centro Público do Emprego, Trabalho e Renda (Emprega Diadema), onde são direcionadas as vagas para estes perfis. O programa passa pelas 15 escolas que atendem o EJA em Diadema, totalizando cerca de dois mil alunos.

Já a Secretaria de Assistência Social de Santo André é responsável pelo Programa Andreense de Qualificação (PAQ), no qual o município paga uma bolsa aos inscritos no Programa. Para ser inserido, é preciso estar inscrito no Cadastro Único do Governo Federal. O Programa funciona parecido com os concursos públicos, onde um dos critérios de desempate consiste no candidato com maior idade e vulnerabilidade. Atualmente, são 116 bolsistas realizando atividades práticas e cursos de capacitação em diversos setores da Prefeitura.      

Para o eletricista industrial aposentado, Germano de Almeida, de 75 anos, a pessoa que possui o seu emprego hoje tem que se esforçar para segurar. “O mundo hoje está diferente. Com certeza eu sofreria com isso. Antigamente, as condições eram melhores. A gente saia de um emprego e no dia seguinte estava em outro. A tecnologia mudou muita coisa. Embora eu pudesse sofrer com a desatualização, me sinto o mesmo quando comecei a trabalhar. Mas não acho que isso seja um empecilho. Até porque tem muitos equipamentos hoje que ajudam uma pessoa com mais idade. O problema seria talvez a memória, que já não é mais a mesma” declarou o aposentado, que continua exercendo a função realizando pequenos serviços de elétrica e hidráulica.

Efeito é causado pela redução de custo e agilidade

Para a especialista em RH (Relações Humanas), Tânia Fernandes Paes, atualmente este tipo de preconceito está ligado a competitividade, redução de custos, velocidade e agilidade que as empresas procuram em seus colaboradores. “É na busca por essas qualidades que levam as empresas a preferirem candidatos que se encaixem em determinados perfis, muitas vezes associados a trabalhadores mais jovens. Isso pode ocorrer devido à percepção de que esses candidatos são mais adaptáveis, familiarizados com novas tecnologias e menos onerosos em termos de salários. No entanto, essa abordagem pode levar ao etarismo, excluindo profissionais mais experientes que, apesar de não se enquadrarem em todos esses critérios, trazem um conjunto de habilidades valiosas e uma visão estratégica que pode ser crucial para o sucesso à longo prazo da organização.”, relatou.

Tânia explicou ainda que algumas exigências no currículo, como curso superior ou fluência numa segunda língua, podem inibir a inscrição deste perfil de profissional. “Com certeza, embora essas qualificações possam ser legítimas para determinadas posições. Sua aplicação rígida pode inadvertidamente excluir candidatos mais experientes que, apesar de não atenderem a todos os critérios formais, possuem uma riqueza de conhecimento e habilidades valiosas. Por isso, é importante que as empresas considerem se essas exigências são realmente essenciais para o desempenho da função ou se podem ser flexibilizadas para incluir um grupo mais diversos de candidatos”, disse a especialista, orientando os profissionais acima de 45 anos a importância de inserir no currículo não só as informações básicas, mas intensificar os resultados que trouxeram para as empresas anteriores.

ONU

Último relatório datado de 2021 da Organização das Nações Unidas (ONU) Brasil, apontou que uma em cada duas pessoas no mundo tem atitudes discriminatórias contra idosos, e isso acentua uma piora na saúde mental e física dos mais velhos. A Organização Mundial da Saúde (OMS), também divulgou um relatório com prejuízo na casa dos bilhões causados por ações discriminatórias, que levam a tratamentos no campo da saúde.

A partir destes estudos, observou-se que as políticas e leis que tratam do preconceito, como atividades educacionais que aumentam a empatia e dissipam equívocos, ajudam a diminuir a discriminação. Em 2022, o total de pessoas com 65 anos ou mais no país chegou a 10,9% da população, com alta de 57,4% frente a 2010. O dado é do Censo Demográfico 2022.  Segundo o artigo 96 do Estatuto do Idoso, discriminar a pessoa idosa, ou seja, o preconceito relacionado à idade, é considerado crime. A pena prevista é de 6 meses a 1 ano de reclusão e multa.

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