O espetáculo da segurança pública à la Ribeirão Pires

Nada como viver em uma cidade onde a segurança está, literalmente, nas mãos de quem entende do assunto — afinal, quem melhor para proteger o cidadão do que alguém com experiência prática em furtos qualificados? Em Ribeirão Pires, o secretário da Segurança Pública, Sandro Torres Amante, foi condenado a quase três anos de prisão por liderar um roubo cinematográfico: 60 kg de carne, R$ 28 mil em dinheiro, cheques, câmeras, roteadores e até um cofre. Se existisse um prêmio para criatividade em furtos, certamente a cidade já teria seu representante no pódio.

O mais fascinante é o roteiro de novela: câmeras de monitoramento desviadas “acidentalmente”, denúncia falsa para tirar as viaturas do centro, divisão de butim entre os carros oficiais e, claro, a clássica tentativa de apagar as imagens do crime. Tudo isso sob o comando de quem deveria zelar pela ordem. É a segurança pública versão “faça você mesmo” — ou, no caso, “faça você mesmo sumir com a carne do açougue”.

Mas calma, o espetáculo não para por aí. O prefeito Guto Volpi, num gesto de confiança cega digno de filme de super-herói, decidiu manter o secretário no cargo, mesmo após a condenação em segunda instância. Afinal, quem nunca errou, não é mesmo? E, convenhamos, 30 anos de carreira na prefeitura dão direito a pelo menos um “deslize” de 60 kg de picanha e uns milhares em espécie.

Enquanto isso, a população assiste ao show de horrores: um secretário condenado por furto comandando a segurança, um prefeito que enxerga inocência onde a Justiça vê provas, e uma Guarda Municipal que, segundo o Ministério Público, se especializou em formar milícia privada e vender proteção para não extorquir os próprios comerciantes.

A cereja do bolo? O discurso oficial de que “toda e qualquer decisão da Justiça será cumprida”. Só esqueceram de avisar quando. Até lá, a carne some, o dinheiro voa, e a confiança da população é servida bem passada — ou melhor, queimada.

Em Ribeirão Pires, o crime não compensa. Ele é promovido.